Proponho aqui um simples
exercício de voltar às Escrituras e examinar a atitude de cinco pessoas
diferentes ao redor de Jesus. Suas atitudes com relação ao mestre nos ensinam e
nos preparam para um sano exercício da liderança. O episódio é aquele registrado
no evangelho de João (12.11), em que a poucos dias de seu sofrimento e morte,
Maria (a irmã de Marta) o unge. Quem são esses cinco personagens e como nos
desafiam?
A primeira, Marta. Com um
banquete, foi assim que Marta o serviu. Pobre Marta, muito mais lembrada por
aquele episódio onde ela se queixa de sua irmã e como resposta recebe uma
reprimenda de Jesus. Esquecemo-nos que Lucas captou bem a essência do que
aconteceu (Lc 10) ao colocar lado a lado o relato do Bom Samaritano e o da
repreensão à irmã de Maria. Marta era o modelo da mulher de ação, de
iniciativa, a obediente proativa que tão bem representava o samaritano da
parábola contada por Jesus. Mas além de sua obediência louvada, era importante
também enfatizar a outra atitude, a do saber ouvir e do deleite em desfrutar da
presença de Jesus, como sua irmã o fez. O equilíbrio entre contemplação e ação,
entre o ouvir e o obedecer, é a chave para entender o que Jesus nos ensinou.
Aqui, Marta, a mulher que nos modela em seu serviço e iniciativa, preparou um
banquete, serviu a Jesus, e assim o “ungiu” à sua própria maneira. Jesus
simplesmente a acolheu e recebeu essa sua “unção do serviço”. Desfrutou do que
Marta tinha para oferecer-lhe.
O segundo, Simão, o leproso.
O dono da casa, anônimo no evangelho de João, nos é revelado pelas narrativas
paralelas como sendo certo Simão, de quem pouco sabemos. Concluímos que seria
na verdade um ex-leproso, possivelmente curado por Jesus, reintegrado à vida na
cidade, e agora anfitrião de um jantar especial oferecido ao Mestre. Como pode
alguém previamente excluído, menosprezado, rejeitado, agora ser um hospitaleiro
generoso? Parece que a amargura que nos seria tão natural e justificada passou
longe de seu coração e de seu agir. Ele se abriu, também abriu sua casa, não
guardou Jesus exclusivamente para si e quis compartilhar sua visita ilustre com
todos os que vieram ao seu lar naquela noite. Simão, o anfitrião generoso
certamente nos ensina muito.
A terceira, Maria. A irmã de
Marta e de Lázaro não calcula os custos de sua devoção a Jesus. Demonstra, sem
restrições de qualquer tipo, sua profunda e intensa entrega. O óleo caro (um
ano de salário), o trabalho de um servo, os raros cabelos soltos de uma mulher
judia em público, a unção tanto da cabeça como dos pés de Jesus (possivelmente
para João o inusitado tenha sido o nardo derramado sobre os pés, por isso o seu
registro). Sem reservas, sem cálculos prévios, numa consagração inteira e
apaixonada. Uma gratidão que não mede os custos da devoção é a chave da atitude
de Maria.
Quarto, Judas Iscariotes.
Evitemos julgá-lo rapidamente. Recordemos que nesse momento ele era uma voz da
razão e do bom senso. Além do mais, ninguém ali além de Jesus sabia que ele era
um ladrão que viria a ser o traidor. Ao contrário, o que ele disse soava bem,
parecia bastante razoável, “não desperdicemos”, “vejamos o custo-benefício”,
“ajudemos aos pobres”. Excelente, não? O problema é que a agenda era falsa e
egoísta. Vale aclarar um ponto importante. Quando Jesus responde dizendo que
“sempre tereis pobres convosco”, certamente não foi um estímulo à passividade,
e sim a revelação de uma agenda permanente de missão, “quando quiserdes, podeis
fazer-lhes o bem” (Mc 14.7). Claro, implica em disposição, em custo, em
trabalho missionário cuidadoso e perseverante. É fácil e cômodo julgar Judas?
Sim. Difícil é resistir às tentações que nos assolam todos os dias. Melhor
aprender com Judas, ao menos sabendo através de seu penoso exemplo onde cuidar
e o que evitar.
Nosso quinto personagem é
Lázaro. O terceiro irmão, aquele que está à mesa com Jesus, aquele que há pouco
havia sido ressuscitado por seu amigo tão querido. Lázaro, o ex-defunto que
agora é alvo de novos planos para assassiná-lo. Como assim? Outra vez? Mas
acabou de sair da tumba! Qual a razão para que Lázaro “Duro de Matar” seja
outra vez ameaçado de morte? Simples: por meio dele as pessoas chegavam até
Jesus. Ele era um “risco”, era a penetrante fragrância que levava as pessoas a
Cristo. Assim como a casa se encheu com o cheiro daquele perfume, sua vida
estava impregnando tantas outras vidas com a fragrância de Cristo.
Com quem nos identificamos
em nosso exercício da liderança e das responsabilidades que o Mestre nos deu
quando se foi poucos dias depois daquele banquete? Com a mulher de ação, a
obediente Marta? Com o anfitrião hospitaleiro de enorme coração que foi Simão?
Com Maria, que não mediu o tamanho e o custo de sua devoção a Cristo? O que
aprendemos de Judas, evitando não cair em nossas próprias tentações, cuidando
que não nos quebremos nesses pontos débeis da fragilidade humana? Desejamos ser
como o missionário Lázaro, para que em qualquer lugar e em tudo o que fizermos,
sejamos esse perfume de vida que leva as pessoas a encontrarem-se com aquele
que venceu a morte e nos abriu caminho para uma vida verdadeira e abundante?
Cinco lições, para um líder,
qualquer líder, para você e para mim, na missão de seguirmos a Jesus.
Por Ricardo Wesley Moraes Borges
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