Há mais de trinta anos os
cientistas da Universidade da Flórida inventaram um plástico com cheiro de
minhoca, camarão e outros para apanhar os eternamente incautos peixes de água
doce ou salgada. Se antes não valia a pena morrer por causa de uma miserável minhoca,
muito menos razoável é morrer agora por um intragável pedaço de plástico. Só
porque tem cheiro de minhoca. Coitados dos peixes!
E... coitados dos homens.
Porque a estes também se oferece plástico com cheiro de minhoca. Há muito
tempo. Desde o início. Praticamente sem denúncia. Quando alguém levanta a voz
para delatar a mentira, o engano, o logro, a tapeação, os que se enriquecem com
o plástico metido a minhoca gritam mais alto e acabam com o santo protesto.
Naturalmente a tecnologia e
a necessidade do mercado vão transformando o formato, a cor, o cheiro e o sabor
do plástico. Mas ainda é plástico, ainda é isca. Nada mais do que o engodo que
se põe no anzol. Para pescar, para atrair, para prender. A tecnologia muda e o
homem permanece presa fácil. Ele não deixa de morder a isca, ele cede à
mentira, ele é vencido pelo olfato. Ele é como “o boi que vai ao matadouro”.
Como “o cervo que corre para a rede, até que a flecha lhe atravesse o coração”.
Como “a ave que se apressa para o laço, sem saber que isto lhe custará a vida”
(Pv 7.22-23).
É plástico com cheiro de
minhoca tudo aquilo que não corresponde à expectativa. Que não dá o que promete.
Que não vale o que cobra. Tudo aquilo que ludibria. Que explora a fraqueza do
homem. Que ora se apresenta como remédio, mas é veneno. Que se diz inocente,
mas é macabro. Que se mostra bela viola, mas é mulambo só.
A listagem bíblica de
plásticos com cheiro de minhoca é exaustiva: o fruto da árvore que estava no
meio do jardim do Éden (Gn 3.1-24); o cozinhado de lentilhas com o qual Esaú
perdeu o direito de primogenitura (Gn 25. 27-34); a boa capa babilônica que
desnorteou Acã e o levou a fazer loucura em Israel (Js 7.1-26); o vinho que se
mostra vermelho e resplandecente no copo e se escoa suavemente, mas ao cabo
morde como a cobra e pica como o basilisco (Pv 23.29-35); a mulher adúltera,
cujos lábios destilam favos de mel e cujas palavras são mais suaves do que o
azeite, mas cujo fim é amargoso como o absinto e agudo como a espada de dois
gumes (Pv 5.1-23); a comodidade da porta larga e do caminho espaçoso e a
propaganda de que são muitos os que entram por eles, apesar da declaração de
que levam à perdição (Mt 7.13-14); as ciladas do bem-sucedido técnico Balaão,
cujos discípulos sabem montar as coisas de tal maneira que levam o povo a pecar
contra Deus (Ap 2.14); as visões que alteram a doutrina original, tirando um i
ou um til da lei ou colocando elementos novos, não mencionados na fé uma vez
por todas entregue aos santos (Gl 1.6-9).
As coisas estão difíceis
para os homens. Eles veem plástico com formato de minhoca e pensam que é
minhoca. Eles sentem cheiro de minhoca e dizem: “É mesmo minhoca”. Eles chegam
perto da minhoca e dão a primeira e última bocada. Então percebem que não é
minhoca, mas plástico com cheiro de minhoca. Só aí – com o anzol atravessado na
boca – acordam para o fato de que não deveriam ter mordido a pseudominhoca!
Tarde demais, porém.
Por Redação Revista Ultimato
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