Orar deve ser muito mais do
que um simples habito gerado pela tradição religiosa. Orar é uma necessidade da
alma para matar a sede consciente ou inconsciente de Deus. E uma questão de sobrevivência
para quem quer enfrentar as tempestades da vida sem desfalecer. É um expediente
de quem quer se resguardar da carne, do mundo e das potestades do ar. É uma
providencia para quem quer manter incólume o seu casamento até o ultimo dia e
para os pais que querem educar com sucesso os seus filhos no temor do Senhor. É
o exercício para quem deseja construir alguma coisa para o reino de Deus.
A rigor e em ultima
instância, orar o maior de todos os privilégios do ser humano. Porque quem ora
entra no Santo dos Santos e se coloca na presença do próprio Deus em espirito,
não só por meio da fé, mas basicamente por meio do sacrifício vicário de Jesus,
e fala com o Todo-Poderoso com toda a liberdade, seja com palavras audíveis ou
pelo simples mover dos lábios. Todavia, quem ora de fato e aquele que tem duas convicções
ao mesmo tempo: a convicção da extrema estreiteza dos seus próprios recursos e
a convicção da extrema largueza dos recursos do poder e do amor de Deus.
Porque Deus é absolutamente
santo, ele não nos ouve quando vivemos deliberadamente em pecado não
confessado. Pedro chega a dizer que a falta de compreensão entre marido e mulher,
o egoísmo de um e de outro e outros problemas conjugais atrapalham as orações.
Em vez de ser um castigo, essa recusa de Deus em nos ouvir em situações assim é
uma graça porque nos constrange ou nos anima a consertar alguma coisa errada.
Foi Crisóstomo, um dos doutores da igreja, que viveu no quarto século, que dizia
com muita beleza que "a oração torna possível o que é impossível e fácil o
que é difícil”. Essas palavras parecerão simples demais para o humano moderno, não
completamente ateu, mas demasiadamente secularizado. Isso não quer dizer que
ele não ora, mas, para ele, a oração não precisa chegar a Deus nem precisa ser
ouvida. É apenas um exercício de autopiedade, um esforço de concentrado, um
entorpecente para ativar a tensão, a ansiedade e a angustia. Como o fariseu da parábola
de Jesus, ele ora "de si para si mesmo" (Lc 18.11).
Não orar e um desperdício.
Tiago diz que a nossa correria, a nossa agitação, o nosso nervosismo, as nossas
brigas, o nosso afã não nos levam a nada. Só porque não envolvemos Deus, não
recorremos à oração (Tg 4.2). Essa ausência de corações súplices diante de Deus
aparece mais dramaticamente na época do profeta Isaias: "Eu estava pronto
para atender o meu povo, mas eles não pediram a minha ajuda; estava pronto para
ser achado, mas eles não me procuraram. A um povo que não orou a mim, eu disse:
'Estou aqui! Estou aqui" (Is 65.1).
Certas conquistas, certas vitorias,
certas plenitudes, certos regozijos só se alcançam com a ajuda da oração. Os
que levam a serio a oração e não a desperdiçam exclamam, como aquela mulher que
deixou de ser estéril: "Eu pedi esta criança a Deus, o Senhor, e ele me
deu o que pedi!" (1Sm 1.27).
Pastorais (Ultimato, Julho - Agosto)
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